sábado, 28 de abril de 2018

DONA SENHORINHA AFASTA A SOLIDÃO ESPALHANDO CORES PELA CASA.

Por Célia Ribeiro

Na rua principal do Distrito de Padre Nóbrega, uma casa muito simples chama a atenção de quem por ali passa pela primeira vez. Protegida por árvores centenárias, a construção do início do século passado exibe, qual uma galeria a céu aberto, a arte de dona Senhorinha. Ninguém paga nada para admirar as paisagens coloridas pintadas em pedaços de madeira, cascas de árvores e telas reutilizadas encontradas no lixo.
Exposição ao ar livre: telas coloridas na fachada da casa simples
Aos 60 anos, Maria Senhorinha Alves Feitosa Gavioli carrega uma profunda melancolia. Seu olhar distante e a fala monossilábica, entrecortada pelas lembranças do passado, dizem muito. “Foi por solidão”, revelou diante da pergunta sobre o começo de sua jornada. Casada com um servidor público municipal que trabalha na limpeza urbana e mãe de um único filho, “que gosta mesmo é de montar em boi”, ela utiliza os pincéis para colorir seu entorno como se convidasse a alegria para dentro.


As cascas de árvores são aproveitadas
No sábado (21), às 9h30, as panelas exalavam um convidativo aroma de alho e cebola refogados para o preparo do almoço. No feriado, ela recebeu a visita de parentes a quem pediu licença para atender a reportagem e mostrar, com visível timidez, um pouco de sua criação. Cada parede da casa é forrada com as pinturas. Além disso, cascas de árvore e galhos ajudam a compor a decoração do interior.
Melancolia: dona Senhorinha pinta para espantar a solidão
O contato com a natureza está impregnado em suas origens: “Eu gosto mesmo é de mexer na terra. Quando não estou aqui, estou no pedaço de terra lá embaixo, onde faço uma horta. Todo mundo ajuda, o pessoal da farmácia dá semente, adubo, água, e vou plantando o que dá”.

Das flores rústicas que encontra pelo caminho ela extrai a inspiração para as pinceladas. Sem se preocupar com técnica ou qualidade dos materiais, o que importa para dona Senhorinha é “fazer uma flor bonita e bem colorida”. Ela utiliza tintas de tecido, as mais simples e baratas: “Não tenho dinheiro para comprar tinta boa e nem tela. De vez em quando meu marido acha umas telas ou alguém traz umas usadas. Eu pinto por cima e faço outro desenho”, explicou.
Flores por todo lado

A solidão a que dona Senhorinha se referiu no começo da conversa está muito relacionada com a perda da mãe, em 2009, quando completaria 90 anos. Ela volta os olhos para a parede repleta de fotografias da família e mostra, orgulhosa, a imagem da mãe em um quadro antigo em que as cores se desgastaram com o tempo.
Memória viva: dezenas de fotos cobrem a parede da sala
Além disso, o marido passou longo período hospitalizado em tratamento e como o filho trabalha muito, saindo antes do sol nascer da edícula que ocupa no terreno ao lado, dona Senhorinha se sente muito só. “Às vezes faço crochê. Mas, também gosto de pintar e de colocar flores por todo lado”, assinalou.
Sobras de madeira e tinta de tecido: vale tudo para pintar
Um dos poucos momentos em que esboça um sorriso é ao se referir à netinha, “que vive com a mãe no Mato Grosso”. Ela sente muito a falta da menina e contou que a parede de fotos e lembranças ajuda a aliviar a saudade. Sobre o filho, as palavras são sempre de orgulho pelo “homem trabalhador que ele é e que nunca me deu trabalho. Não bebe, não fuma, não tem vícios. Só gosta de boi”.
Dona Senhorinha e o marido João Getúlio Gavioli
Quanto ao futuro, dona Senhorinha parece conformada com a vida simples e pacata que leva. E não tem esperança em vender seus quadros: “Ninguém compra. De vez em quando, aparece alguém com uma tela pra gente pintar. Mas, é difícil. Não tenho sorte”. E assim, segue pincelando cores e criando flores para aplacar a melancolia.

Quem quiser conhecer as flores de dona Senhorinha, o endereço é Avenida Sampaio Vidal, 668, no Distrito de Padre Nóbrega.

sábado, 21 de abril de 2018

AGRO ECOLOGIA: QUALIDADE E PREÇO ATRAÍRAM CONSUMIDOR À FEIRA

Por Célia Ribeiro

Ao cair da tarde, os raios dourados do pôr do sol disputavam atenção com a roda de capoeira e as manifestações culturais na 1ª Feira de Luta Contra os Agrotóxicos, sábado passado, na área pública em frente à EMEFEI Chico Xavier (zona oeste de Marília). Agrofloresteiros vindos de três assentamentos de Gália e Promissão levaram frutas, verduras e legumes orgânicos para venda direta ao consumidor.
Feira ao entardecer: público aprovou a iniciativa
“Existe um consenso formado pelos meios de comunicação, pela grande imprensa, pelas universidades e escolas técnicas, de que não é possível produzir sem veneno”, afirmou o militante do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) Ângelo Diogo Mazin, do assentamento “Luiz Beltrame”, da cidade de Gália. Para ele, a feira de orgânicos contribuiu para divulgar junto à população “que dá para produzir alimento sem veneno”.
Vista geral da feira: orgânicos, música e arte
Bem organizada, a feira encerrou a programação iniciada pela manhã. A proposta era reunir cultura, arte e informação em um espaço aberto ao público que também aproveitou para adquirir produtos frescos a preços acessíveis. Apenas no assentamento de Gália, 27 famílias se dedicam ao cultivo orgânico em 100 hectares. Também estavam representados agricultores dos assentamentos Dandara e Reunidas, de Promissão.
Produtos orgânicos a preços acessíveis
De acordo com Diogo, “a gente tem feito um trabalho com os agricultores de recuperação e de desintoxicação do solo. De fato, os solos que a gente herda, de assentamentos, são solos que foram muito cultivados pelo agronegócio”. Os cuidados consistem no plantio de “culturas como adubo verde, feijão guandu, protalária etc, que ajudam a restaurar a fauna do solo”.
Diogo, agrofloresteiro

VENDA DIRETA

Ele destacou que “um dos objetivos da feira é aproximar o produtor do consumidor para que tenha contato com quem produziu a banana, a laranja, as hortaliças. Com isso, se estabelece uma relação de confiança além do que oferece um produto de menor valor. Também é importante porque está sendo mais justo do que a gente vender para o atravessador”.

Perguntado sobre os preços mais caros pagos pelos produtos orgânicos, Diogo afirmou que “a gente é contra transformar a agro ecologia, o debate dos orgânicos, para ganhar dinheiro. A gente quer oferecer um alimento saudável para os trabalhadores que estão na cidade, que são nossos irmãos, para que eles também tenham uma vida saudável”.

Finalizando, ele explicou que os assentados estão “plantado comida no meio da floresta. Ao invés de colocar 04 pés de alface em determinado espaçamento da agricultura convencional, a gente coloca 04 pés de alface, mais 06 pés de rúcula, mais 04 de berinjela e tomate e no meio planta uma bananeira que vai ajudar com os nutrientes”. Ele espera que a feira se torne periódica, a cada 15 ou 30 dias, com produtos frescos, de qualidade e a preços justos: “Nos nossos cálculos, produzir de maneira sustentável, sem agredir o meio-ambiente, ainda é mais barato que a produção do agronegócio”.
À esquerda, Alexandro e a mãe atendem a clientela
Entre os agricultores presentes, Alexandro Soares e sua mãe estavam animados com o sucesso da feira. Eles comandavam uma das bancas de legumes e frutas atendendo a todos com simpatia: “Tomara que a gente volte outras vezes. Dava medo trazer muita coisa e não conseguir vender. Mas, está indo muito bem”, disse o produtor.
Sílvio cruzou a cidade para conhecer a feira
Se depender da clientela, o evento terá uma segunda edição garantida: Silvio Favaneli, residente no bairro Aeroporto, cruzou a cidade só para conhecer a feira. Ele elogiou a qualidade dos produtos e os preços mais baixos que, no fim das contas, são um atrativo e tanto. Sem falar, claro, no belo pôr do sol!

CAPOEIRA: ARTE E CULTURA NA PRAÇA






LIXO: MARILIA PARTICIPA DE CONSÓRCIO PARA DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Por Célia Ribeiro

Apostando na união de esforços de quem compartilha os mesmos problemas, o Consórcio Intermunicipal de Resíduos Sólidos do Oeste Paulista foi criado para buscar soluções a um dos mais graves problemas dos municípios: a correta destinação do lixo. Segundo Daniel Alonso, prefeito de Marília e vice-presidente da entidade, em até dois anos deverá ser implantado um projeto que represente menos agressão ao meio ambiente e mais economia para os cofres públicos das cidades envolvidas.
Alonso e Daniel Bugalho (presidente do Consórcio e prefeito de Presidente Prudente)
no lançamento do Consórcio em março de 2018
Durante entrevista exclusiva ao Jornal da Manhã, o prefeito explicou que o Consórcio conta, ainda, com os municípios de Presidente Prudente, Paraguaçu Paulista, Rancharia, Presidente Bernardes e Caiabu. Ressalvou, no entanto, que o orçamento de mais de R$ 3,5 milhões, dos quais R$ 1.486.988,16 são da quota de Marília para o exercício de 2018, “trata-se apenas de uma previsão orçamentária. Não significa que gastaremos esse dinheiro”.

Atualmente, Marília paga R$ 700 mil mensais para o transbordo (transporte das quase 200 toneladas de lixo até os aterros de Quatá e Rancharia). Caso tivesse que solucionar sozinha o problema da destinação dos resíduos sólidos, a cidade necessitaria de um pesado investimento para se enquadrar nas rigorosas normas dos órgãos ambientais.
Transbordo do lixo custa 700 mil reais por mês (Foto Mauro Abreu)
“Não sabemos se teremos um ou dois baricentros. Os estudos do Consórcio mostrarão as alternativas”, frisou Daniel Alonso. Conforme disse, inicialmente, os seis municípios se cotizarão para adquirirem a área para um aterro coletivo: “Os estudos preliminares nos dão conta de que essa relação custo/distância/volume, trabalhando com grande volume, fica mais barato transportar o lixo do que ter um aterro apenas para o lixo da cidade”.

O prefeito informou que os planos para o lixo passam pela construção, em Marília, de uma usina para triagem em que seriam aproveitados os catadores de recicláveis, a queima de materiais não recicláveis para geração de energia (em 2017 foi feito chamamento público para empresas interessadas no projeto) e no transporte dos resíduos orgânicos restantes para o aterro do consórcio.

Daniel Alonso destacou que nada está definido porque somente os estudos técnicos darão um panorama das alternativas aos municípios que, necessariamente, deverão obter as autorizações junto aos órgãos ambientais, como a CETESB. Finalizando, o prefeito afirmou que o município não colocará dinheiro próprio devendo obter ajuda junto aos governos estadual e federal, além de firmar parceria com a iniciativa privada.

Segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o próximo passo para as prefeituras que já aderiram ao consórcio é a elaboração do termo de referência. Com informações técnicas detalhando a situação de cada município, o documento vai subsidiar a elaboração dos projetos que buscam a solução final para os resíduos domésticos, da construção civil, da saúde, além dos chamados grandes volumes (sofás, geladeiras, etc.) e os resíduos gerados pela poda de árvores.

domingo, 15 de abril de 2018

AGROTÓXICOS: COMITÊ LANÇA LUZ SOBRE RISCOS À SAÚDE E MEIO-AMBIENTE

Por Célia Ribeiro

As estatísticas são alarmantes e os estudos demonstram, cada vez mais, o impacto negativo do uso indiscriminado dos agrotóxicos na saúde da população e os danos ao meio ambiente. Encarando o poder do agronegócio, responsável pelo superávit comercial do País, os ambientalistas utilizam a mobilização dos comitês municipais para difundirem informações e sensibilizarem as autoridades no sentido de implementarem políticas públicas.
Aplicação incorreta de defensivos pode matar as abelhas. (Foto Ivan Evangelista Jr.)
Em Marília, o Coletivo Socioambiental – Resistência e Luta gestou a formação do Comitê da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, cujo lançamento aconteceu no último dia sete de abril e contou com a presença, dentre outros, do agrofloresteiro e assentado no Projeto de Assentamento “Luiz Beltrame” de Gália, Ângelo Diogo Mazin.
Água da chuva leva agrotóxicos ao Rio do Peixe (Foto: Ivan Evangelista Jr.)
Segundo os militantes do Coletivo, Antonio Luiz Carvalho Leme (gestor ambiental com especialização em Recursos Hídricos e Educação Ambiental, e Meio Ambiente e Sociedade) e seu filho, Gustavo Schorr Carvalho Leme (gestor de Políticas Públicas), a articulação teve início há poucos meses e tem um modelo em que a liberdade dá o tom.

“É uma ideia muito antiga que a gente começou a colocar em prática no fim do ano passado no sentido de reunir grupos, forças, movimentos e pessoas de uma centro-esquerda ambientalista de Marília. Pessoas que comungam deste ponto de vista e fazem um trabalho de pensar a cidade, o território”, explicou Luiz Leme.
Gustavo e Luiz Leme, ambientalistas
Conforme disse, o Coletivo não tem diretoria, nem CNPJ, “porque é um espaço sem burocracia onde as pessoas e grupos se reúnem e colocam o que estão fazendo ou pretendem fazer. A partir disso, a gente começa a fazer um trabalho articulado”. O primeiro fruto foi o Comitê da Campanha Nacional contra os Agrotóxicos e Pela Vida que o coletivo ajudou a preparar e que terá futuro independente a partir de agora.

VENENO NA MESA

A questão dos agrotóxicos, ao lado de temas como saneamento básico, merece atenção por sua importância ao impactar a saúde das pessoas. Segundo Luiz Leme, o Comitê definiu três linhas básicas de atuação: manter a conscientização da população, através da distribuição de material informativo nas feiras livres e na ilha em frente à Galeria Atenas; lutar por leis que proíbam a pulverização aérea de agrotóxicos e incentivar a produção e o consumo de produtos orgânicos, inclusive na merenda escolar.
Lançamento do Comitê contra os Agrotóxicos em Marília
Gustavo Schorr afirmou que os membros do Comitê serão incentivados a participarem de Conselhos Municipais como os do Meio Ambiente (CADES) e da Segurança Alimentar (CONSEA). Há planos, ainda, para realização de análises na água dos Rios do Peixe e Tibiriçá, periodicamente, para identificar o nível de oxigênio, por exemplo, utilizando kits bem simples que poderão ser manuseados por estudantes de primeiro e segundo graus.

Sobre a pulverização aérea, Luiz Leme observou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o lançamento de agrotóxicos possa atingir até 32 quilômetros de distância. Ele citou o caso do assentamento do MST (Movimento dos Sem Terra) de Gália onde vivem 77 famílias e 27 unidades se dedicam à produção agro ecológica orgânica em 100 hectares: a área foi atingida por uma pulverização em uma propriedade vizinha, conforme denúncia levada às autoridades.
A pulverização aérea pode atingir até 32 km de distância
“No Brasil, estima-se que cada pessoa consuma 7,3 litros de agrotóxico por ano. É um consumo distribuído na contaminação do solo, da água e dos alimentos. No caso do Paraná, estado onde há agricultura em imensas áreas, o consumo per capita chega a 8,7 litros”, destacou o ambientalista. Conforme disse, os pesticidas também afetam o equilíbrio ambiental ao reduzir o número de abelhas polinizadoras, com a destruição de habitat dos pássaros.

Outro dado alarmante foi a pesquisa realizada em Lucas do Rio Verde (Mato Grosso) onde foi registrada contaminação de 100 por cento do leite materno analisado das mães que amamentam seus bebês. “O que era para ser alimento natural é veneno”, pontuou Leme.
Como se não bastasse, o Brasil está no topo das estatísticas de contaminação de trabalhadores que aplicam os agrotóxicos nas lavouras sem a utilização dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). E Marília aparece no ranking com um nada honroso quarto lugar no Estado de São Paulo e 24º a nível nacional.
Trabalhador sem proteção: contaminação no campo (Foto: ecycle.com)
AGRICULTURA ORGÂNICA

Estão crescendo as áreas com cultivo de produtos orgânicos, sobretudo nas pequenas propriedades, com o surgimento de feiras livres em que os agricultores comercializam sua produção diretamente. Essa tendência é uma das lutas dos ambientalistas que querem ver difundidas as informações sobre os benefícios dos alimentos livres de agrotóxicos.
Defensivo descartado incorretamente
em Avencas (Foto: Ivan Evangelista Jr)

Por sua vez, caberá ao poder público contribuir incentivando a agricultura orgânica, começando pela aquisição dos produtos diretamente dos pequenos produtores para enriquecer a merenda escolar. Já será um grande passo!

domingo, 8 de abril de 2018

COM QUEDA DE 40% NA ARRECADAÇÃO, ACC PROCURA FORMA DE MANTER O ATENDIMENTO.

Por Célia Ribeiro

Com a evolução da medicina, são cada vez maiores as chances de cura dos diversos tipos de câncer. Apesar disso, o impacto da notícia para o paciente e seus familiares é quase sempre devastador, o que torna essencial o papel de instituições como a ACC (Associação de Combate ao Câncer de Marília), não apenas no acolhimento  como, principalmente, no suporte àqueles vindos das camadas mais carentes da população.
Maria Antonia (esquerda) com voluntárias na cozinha de toda quinta-feira
Aos 25 anos, a entidade vive um momento crítico: graças à burocracia oficial, viu reduzir em 40 por cento a receita anual proveniente das doações da Nota Fiscal Paulista, programa da Secretaria Estadual da Fazenda.  Anteriormente, os voluntários captavam as notas nas urnas colocadas em pontos de coleta e faziam a digitação dos dados dos documentos em que o consumidor não registrou o CPF.

A operação, embora trabalhosa, rendia entre 170 mil e 200 mil reais por ano. No entanto, a partir de janeiro de 2018, foi alterada a sistemática: o consumidor deve acessar o site da nota fiscal paulista (fazenda.sp.gov.br/nfp) e inserir a informação com os dados da entidade (CNPJ) que deseja beneficiar e por quanto tempo. Muitos esqueceram a senha e nem lembram o e-mail que cadastraram.
Bingos mensais ajudam na arrecadação de recursos
Segundo a presidente da ACC, Maria Antonia Antonelle, as despesas giram por volta de 45 mil reais por mês e a receita da nota fiscal paulista era a principal fonte. “Estamos fazendo campanhas, cadastrando consumidores em shopping, bancos etc, mas ficou muito mais difícil”, explicou, assinalando que só em maio será possível ter uma ideia de quanto será arrecadado.

Uma vez por ano, a Loja Alba faz uma campanha de venda de camisetas, alusiva ao câncer de mama, que na última edição gerou 12 mil reais e empresas como o Tauste contribuem com as promoções, como as pizzas solidárias. Outras fontes de recursos são raras: este ano, a entidade foi contemplada com uma emenda parlamentar do deputado estadual Abelardo Camarinha, no valor de 100 mil reais. Os recursos serão totalmente investidos na aquisição de medicamentos e suplementos alimentares
para os portadores de câncer em tratamento.
Voluntários: a força da entidade
ATENDIMENTO HUMANIZADO

Com reconhecimento de utilidade pública nas três esferas (municipal, estadual e federal), a ACC possui uma excelente estrutura, incluindo a Casa de Apoio em que pacientes e seus acompanhantes podem fazer todas as refeições e pernoitarem sem gastarem nada. Além disso, a entidade oferece atendimento personalizado com assistente social, psicóloga, nutricionista e fisioterapeuta.
O artesanato, vendido em bazares e na sede, geram renda para a ACC
“Aqui, os pacientes não são tratados como em hospitais, em que ficam horas na fila. Na ACC eles têm hora marcada e se sentem como se estivessem em uma clínica particular”, frisou a presidente.  Para se ter uma ideia do alcance desse trabalho, desenvolvido em grande parte por profissionais voluntários, em média são atendidos 3.500 pacientes e 1.500 acompanhantes, todos os anos.

A instituição recebe pacientes de 63 municípios da região de Marília, fora os de outros estados que, vez ou outra, são encaminhados pelo Hospital de Clínicas e Santa Casa onde realizam os tratamentos de radioterapia e quimioterapia. Com a queda na receita, o trabalho de sensibilização junto às Prefeituras foi intensificado a fim de obter ajuda para as despesas mais onerosas que são os medicamentos e suplementos alimentares.
Venda de pizzas ocorre periodicanente

Maria Antonia explicou que, desde as diretorias anteriores, a ACC sempre tentou apoio junto aos municípios, sem sucesso. Agora, como medida emergencial, a entidade deixará de fornecer os medicamentos e suplementos para os pacientes da região, beneficiando apenas os de Marília.

Visivelmente emocionada, a presidente disse que embora seja pequena, a subvenção da Prefeitura de Marília, de R$ 3.600,00 mensais, é de grande ajuda. Ela observou que “os voluntários são de Marília, as empresas que nos ajudam são daqui e por isso, neste momento, vamos atender com suplementos e medicamentos apenas os pacientes da cidade. Os demais continuarão sendo atendidos nos serviços de psicologia, nutrição, fisioterapia, podem fazer as refeições e pernoitar na Casa Apoio, sem gastar um centavo. Mas, não temos como dar os medicamentos e suplementos que são muito caros”.

ALTO CUSTO

A presidente da ACC falou com tristeza sobre a restrição da clientela: “Os suplementos são muito caros. Usamos vários como Nutren, Ensure, Isosource, entre outros, que pagamos 66 reais cada lata direto no fornecedor porque na farmácia custa mais de 100 reais. E tem paciente que só se alimenta disso porque, quando faz quimioterapia ou radioterapia, mexe muito com o paladar e o sistema digestivo. O paciente sente náuseas e precisa estar forte para aguentar o tratamento. Se começar a perder peso eles suspendem a quimioterapia”, destacou.

Conforme disse, antes da medida extrema, por absoluta falta de condições, foi tentado de tudo: “Enviamos ofícios a todas as Secretarias Municipais da Saúde, mandamos folders, informações sobre os pacientes atendidos de cada cidade e nem assim tivemos retorno”. Ela observou que não precisa haver uma subvenção oficial da Prefeitura: “Desde que haja uma parceria com entidades querendo nos ajudar, promovendo um evento, uma pizza solidária, um jantar ou outra atividade, em prol da ACC, nós voltaremos a ajudar os pacientes daquela cidade”.
Devido à qualidade e bom preço, os bazares são concorridos
Maria Antonia fez questão de frisar que as despesas da ACC “vão muito além do que a pessoa consome. Está embutida toda a nossa estrutura, todos os profissionais pagos, água, luz, gás, telefone, equipe de limpeza, da cozinha, recepção etc”. Há diversos profissionais voluntários, mas alguns tiveram que ser contratados pela entidade que precisou suportar mais esse gasto.

GERAÇÃO DE RENDA

Aposentada da Caixa Econômica Federal, Maria Antonia Antonelle é também gemóloga, profissional que identifica e precifica pedras preciosas, atividade que deixou em segundo plano quando abraçou a presidência da ACC. E, como em um verdadeiro garimpo, está à frente das iniciativas que objetivam a geração de renda para a manutenção da instituição.

Com cerca de 80 voluntários atuantes, a ACC promove bingos mensais na própria entidade, vende pizzas solidárias e, às quintas-feiras, de sua cozinha saem delícias como rosca de calabresa, torta de frango, beliscão, bolachinhas etc. O bazar da pechincha, que aceita doações de roupas, calçados, móveis etc, em bom estado e o Brechic (brechó com itens diferenciados) também ajudam a angariar recursos, além do bazar de artesanato e a venda de peças na sede da entidade.
A presidente em ação de captação
de doadores de nota fiscal no shopping

Por sua vez, os cerca de 300 sócios são responsáveis por uma arrecadação mensal de 4 mil reais, valor que a entidade espera ampliar com uma grande campanha para adesão aos novos sócios a ser lançada nas próximas semanas. A ACC precisa contar com uma receita fixa mensal para ter mais equilíbrio.

A presidente fez questão de destacar  a importância dos voluntários que contribuem com tempo e energia dando o melhor de si em prol do próximo. Ela comentou que muitas pessoas, aposentadas e com tempo livre, estão depressivas em casa e poderiam contribuir com a entidade. Periodicamente são realizadas capacitações para novos voluntários.

“Não somos nada sem os voluntários. Sem eles, nenhuma entidade funciona. Precisamos motivar as pessoas, precisamos de ajuda para fazer nossos projetos. Temos que envolver os universitários. Isso está renascendo nos jovens. Está havendo um olhar deles para essas causas e isso deve ser estimulado pela própria universidade e pelas escolas, desde pequenininhos, porque todo mundo tem algo que pode doar, independente de governos”, finalizou.

Para conhecer ou contribuir com a ACC, o endereço é Rua Marrey Junior, 101 – ao lado do Fórum de Marília. Telefone (14) 34545660 e e-mail: accmarilia@hotmail.com O site é: accmarilia.org.br

domingo, 1 de abril de 2018

RENASCIMENTO: PASTORAL DA SOBRIEDADE ACOLHE FAMILIARES DE DEPENDENTES


Célia Ribeiro

Ao despertar, seu primeiro desafio é manter-se forte para atravessar mais um dia e ainda estender a mão àqueles que precisam de ajuda para permanecerem sóbrios. Leandro Pereira de Castro, 35 anos, divorciado, passou metade da vida sob a dependência química. Ex-usuário de cocaína, que conheceu na juventude, está recuperado há três anos e hoje dedica-se a ajudar quem luta para superar a dependência.
Coordenadora Diocesana, Vanda Ramos, na sede da Aurora Boreal
Leandro encontrou na Pastoral da Sobriedade da Diocese de Marília a força para virar o jogo, encarar seu vício e vencer. Guerra silenciosa, é feita de muitas batalhas que precisam ser travadas uma a uma. “Eu fui usuário de cocaína desde os 15 anos. Passei pela comunidade terapêutica e quando saí precisava de apoio para não recair. Foi quando encontrei a Pastoral da Sobriedade. Hoje, trabalho como monitor na Vida Nova e faço parte da Pastoral”.
Vida Nova: Leandro virou o jogo

De fala mansa, medindo as palavras, Leandro explica que “o maior desafio é a pessoa admitir a dependência e buscar ajuda. Não adianta os outros falarem. A pessoa tem que aceitar que é doente e precisa de ajuda. Foi assim comigo”, frisou. Por isso, ele valoriza tanto seu trabalho na comunidade terapêutica: quer ser exemplo para os que estão iniciando a jornada.

Exemplos como o de Leandro, felizmente, têm aumentado. Muitos ex-dependentes (álcool, drogas, cigarro, jogos, internet etc), após passarem por tratamento, decidem devolver um pouco do que receberam e participam de cursos de formação tornando-se agentes nos diversos grupos da Pastoral presentes nas igrejas católicas de Marília.

Segundo a coordenadora Diocesana, Vanda Leite da Silva Ramos, 50 anos, a Pastoral da Sobriedade foi criada na Diocese de Marília em 2010, constituindo-se em “uma ação concreta da igreja católica que evangeliza e busca a sobriedade como um modo de vida. Através da terapia do amor, propõe mudanças de comportamento visando valorizar a pessoa”.

Com uma coleção de histórias tristes para contar, ela não disfarça a emoção ao relatar a situação em que muitos chegam à Pastoral: “Outro dia, tivemos a presença de uma mãe completamente desesperada. O esposo é usuário de drogas, a filha e o filho também são dependentes químicos. Como ela tem duas crianças pequenas, não sabe o que fazer e foi buscar auxílio”.
Curso de formação de novos agentes de pastorais em Marília
Vanda Ramos faz questão de explicar que a Pastoral atua junto às famílias e que, caso o usuário manifeste o desejo de se recuperar, o grupo se articula para encontrar uma vaga entre as comunidades terapêuticas para a internação que deve ser voluntária. Ela informou que “além de trabalhar na prevenção e na recuperação de dependentes químicos e suas famílias, os codependentes, a Pastoral da Sobriedade também atua como grupo de apoio às pessoas com problemas emocionais como ansiedade, convulsividade, depressão e outros males”.

REUNIÕES

Em várias paróquias são realizadas reuniões semanais de modo que se a pessoa perdeu o encontro da sua paróquia, pode se dirigir a outra e assim por diante. Na oportunidade, são vivenciados os “12 passos com temas bíblicos do Programa de Vida Nova que está fundamentado no Evangelho e na doutrina cristã e que acata as diretrizes gerais da ação evangelizadora da CNBB”.
Vanda com o esposo Willians, Leandro e novos agentes
A coordenadora disse que a propaganda boca a boca funciona porque, durante as missas, sempre são passados recados sobre as reuniões. E quem conhece alguma família que necessita logo trata de informa-la em um ciclo virtuoso que faz com que, a cada semana, mais e mais pessoas procurem ajuda.

Ela explicou que há o momento da partilha em que todos podem se manifestar e os agentes da Pastoral permanecem em silêncio, ouvindo os depoimentos. Caso haja familiares, procuram dividi-los em grupos separados para que tenham privacidade para exporem suas colocações sem constrangimento.

“No programa de autoajuda, as pessoas aprendem a lidar e a resolver seus problemas através da ajuda mútua. Durante a partilha das experiências de vida, os participantes conseguem identificar parte de sua própria história pelo sofrimento, pela experiência e pelos anseios dos outros”, pontuou a coordenadora.
Divulgação na missa

Ela prosseguiu informando que o grupo “utiliza o modelo sistemático para ajudar as famílias a encontrarem soluções aos abalos que sofrem quando um ou mais membros estão afetados pela dependência química, ou seja, a dificuldade de um dos membros da família é compartilhada por todos e cada um tem sua participação e responsabilidade no processo de mudanças”.

Vanda destacou que “o objetivo da reunião é tratar o problema da dependência química abrangendo o grupo familiar sem, no entanto, promover um confronto entre eles”. Catequista na Paróquia São João Batista (Jardim Bandeirantes), ela repete as frases que estão na mente de todos: “A droga é um mal e ao mal não se dá trégua” e “Pastoral da Sobriedade: fazer dos excluídos os nossos preferidos”.

EM FAMÍLIA

Esposa de Willians Ramos, coordenador da Pastoral da Sobriedade na Paróquia São João Batista, Vanda está há dois anos e meio nesta caminhada. Mas, sua dedicação é tamanha que parece veterana. Ela contou que a atuação nos grupos trouxe outro sentido à sua vida: “Às vezes, a gente se lamenta por pouco. Quando ouço o problema de um irmão, vejo que tem gente com problemas muito piores. E Deus manda essas pessoas pra gente”.

Ao mesmo tempo em que coleciona histórias tristes, ela se abastece dos resultados exitosos. “Muitas pessoas venceram. Saíram das comunidades terapêuticas e aqueles quem nem frequentavam igreja, nunca foram batizados, procuram fazer a catequese de adultos para a primeira comunhão e continuam batalhando um dia de cada vez. Temos muitos que dão testemunhos nas escolas, que falam sobre as drogas e os que são agentes de Pastorais após terem superado a dependência”. Ela frisou que todos podem participar, independente da religião, citando uma evangélica que tem frequentado os encontros.
Capacitados, novos agentes vão atuar nas Pastorais da Sobriedade
Anualmente, são promovidos cursos de formação para novos agentes. O último, realizado recentemente em Marília, contou também com representantes da Diocese de Assis. A grande dificuldade, segundo Vanda Ramos, é a falta de infraestrutura. Por exemplo, a equipe necessita de notebook, Datashow, microfone, impressora, equipamento de som etc porque sempre precisam emprestar de voluntários e das paróquias por ocasião dos treinamentos.

“Temos algumas limitações. Não podemos fazer rifa ou bingo, por exemplo, porque é um jogo. E temos pessoas viciadas em jogos tentando se recuperar. Então, nossa dificuldade é como obter esses recursos de maneira a não contrastar com nosso trabalho”, assinalou. O contato da coordenadora é: vanda_ramos67@hotmail.com

ONDE ENCONTRAR APOIO  

As reuniões acontecem à noite, uma vez por semana, nas seguintes paróquias: Nossa Senhora de Fátima – Jóquei Clube (Rua Japão, 239) às terças-feiras, às 20h; Nossa Senhora de Guadalupe – Nova Marília (Av. João Ramalho, 1150) às quartas-feiras, às 20h; Santa Antonieta (Avenida João Dal Ponte, 853), às sextas-feiras às 20h; Santa Rita de Cássia – Nova Marília (R. Fernando Nogueira Cavalcante, 115) às sextas-feiras, às 20h; São João Batista – Jardim Bandeirantes (R. Alexandre Fernandes, 442) às quartas-feiras, às 20h; e São Miguel  (Av. Castro Alves, 867), às segundas-feiras às 19h30.