domingo, 21 de abril de 2013

EXCLUSIVOS E RESISTENTES, MATERIAIS DE DEMOLIÇÃO GANHAM NOVA VIDA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS.

Por Célia Ribeiro

Originários do sul da Europa e muito populares na Inglaterra vitoriana e na Rússia, os azulejos hidráulicos ainda são feitos à mão, um a um, a partir de um molde de bronze. Bonitos, raros e resistentes, eles são garimpados em pleno século XXI e agora podem ser encontrados em modernas construções que, além da beleza, valorizam o reaproveitamento de materiais minimizando a degradação ambiental.

O charme do lavabo com pia e gradil antigos
Em Marília, a arquiteta Ângela Torres, referência em construções sustentáveis, tem visto aumentar o interesse pelo uso de materiais de demolição nas obras que projeta para clientes da cidade e da região. O público que a procura é diversificado: jovens casais, famílias numerosas ou até quem quer um teto para viver sozinho.

Em comum, seus clientes desejam uma casa bonita e confortável, empregando materiais exclusivos que aliam a rusticidade das construções de outrora com pinceladas de modernidade. Dessa forma, o cimento queimado do piso pode ser entrecortado com peças cerâmicas gerando mosaicos originais. O gradil da fachada do casario antigo vai para dentro do novo imóvel e cria um nicho todo charmoso. Enfim, são infinitas as possibilidades.

Gradil de demolição dá um toque especial ao mezanino
  Mas, nem tudo são flores. Segundo explica a arquiteta, há certo preconceito por parte dos operários e construtores que não gostam de “trabalhar com coisa velha”. Entretanto, quando a obra começa a ganhar forma o resultado surpreende os mais céticos. Ela ressalva que é preciso respeitar as características dos materiais: “O azulejo hidráulico pode ter uma mancha ou outra e isso é normal porque ele é poroso. Mas, ele é muito resistente, também”.

POLUIÇÃO AMBIENTAL

“Imagine jogar nos lixões e nos aterros sanitários pedaços de madeira, ferro, azulejos e outros materiais antigos que são muito resistentes e demorariam anos para se decomporem”, observa Ângela Torres. Além de evitar o desperdício de dinheiro, o que seria entulho pode ser bem empregado em projetos arrojados e exclusivos.

Ângela Torres é referência em construções sustentáveis

Segundo ela, o tempo para execução da obra é o mesmo das construções convencionais. Tudo depende do garimpo dos materiais que exige muita paciência. “No interior é muito mais fácil e barato conseguir as peças. Em São Paulo, por exemplo, os depósitos de materiais de demolição vendem bem mais caro porque a procura está aumentando a cada dia”.

Ângela disse que está sempre atenta quando percorre os bairros e vê uma reforma ou demolição. “Pergunto se querem vender as portas, se vão aproveitar as telhas, os tijolos etc”, comentou, citando que, há pouco tempo, ao ver a retirada dos gradis de uma construção antiga, próxima ao Jardim Aquarius, imediatamente avisou seu cliente que aproveitou o material na obra em andamento.

Da mesma forma, ao projetar um conjunto de lojas, nas imediações do ao Shopping Esmeralda, a arquiteta sugeriu a venda dos materiais de demolição retirados do prédio antigo. Com isso, a proprietária economizou um bom dinheiro e muitas pessoas puderam aproveitar o que seria entulho jogado fora, poluindo a natureza.

A beleza incomum do azulejo hidráulico no piso à direita
 “O brasileiro, infelizmente, não tem a cultura da preservação. Quer demolir e construir o novo. Hoje, a qualidade dos materiais nem se compara com a de antigamente. Primeiro, a madeira nem existe mais. Temos madeira de reflorestamento que não é a mesma coisa das madeiras de lei das casas do passado”, destacou.

Do alto, a visão do piso de cimento queimado na sala ampla.


No caso de tijolos e areia, o problema é ainda mais sério: “Hoje se retira areia dos rios que estão todos poluídos. Os tijolos têm química. Por isso, recomendo aos meus clientes comprarem areia de Panorama, do Rio Paraná, porque do Rio Tietê tem muita poluição”. Por essa razão, os tijolos antigos são mais puros e resistentes, ponderou.

MEMÓRIA

Por outro lado, a arquiteta defende medidas de apoio à preservação das construções históricas da cidade. Conforme disse, não adianta o casarão ser tombado pelo Patrimônio Histórico se restarem aos proprietários os custos de restauração e manutenção. Como exemplo, citou o primeiro sobrado de Marília, localizado na Rua D. Pedro: “No dia em que entrei lá eu chorei de ver o estado daquilo. Dá agonia. Tem uma escada de madeira, toda entalhada, que valeria uma fortuna e tudo está abandonado, sem preservar a memória da cidade”, finalizou.

Cadeiras de varanda "retrô" dão um toque especial
ao imóvel que reaproveitou materiais
Para entrar em contato com a arquiteta Ângela Torres, escreva para: angelct@ig.com.br ou ligue: (14) 81229796. Neste blog há reportagens sobre construções sustentáveis publicadas nas edições de 06  e 13 de maio de 2.012.

 * Reportagem publicada na edição de 21.04.2013 do Correio Mariliense

4 comentários:

  1. Belíssima reportagem, Célia! Destaque para o descaso pela preservação da memória do casarão da Rua D. Pedro. Adoro aquele prédio, mesmo do jeito que está.

    Beijos,

    Eneida

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  2. Adorei... sinto tanta vontade de ir nestes lixões pq o que não serve para uns é totalmente útil para outros.

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    1. Olá, Renata!
      Muitas pessoas descartam objetos em bom estado. Infelizmente, não temos a cultura da preservação. Beijos, querida!

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  3. Eneida, querida, muito obrigada!
    Realmente, é uma pena a falta de memória da nossa cidade. Beijão e apareça sempre aqui!

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