domingo, 26 de agosto de 2012

ESCOTEIRA UNIVERSITÁRIA USA ENSINAMENTOS DE T.O. E AMOR À NATUREZA EM TRABALHOS VOLUNTÁRIOS

Por Célia Ribeiro

Aos 21 anos e com uma beleza natural que faria sucesso no mercado publicitário, a estudante Natália de Andrade Teixeira, de São José do Rio Preto, aproveitou a experiência de mais de 10 anos como escoteira e o amor à natureza para potencializar os trabalhos voluntários que desenvolve em instituições filantrópicas. Essas ações são uma prévia do que pretende fazer em 2.013, no último ano do curso de Terapia Ocupacional, quando terá estágios obrigatórios.
Natália (direita) com os pais e irmã: exemplo vem de família
Tímida à primeira vista, Natália desabrocha quando começa a falar sobre a escolha da profissão. Estudante do terceiro ano do curso de T.O. da UNESP, campus de Marília, ela é exemplo de jovem que realmente gosta do que estuda. Com a vivência no Movimento Escoteiro graças ao exemplo dos pais, também escoteiros, aprendeu a amar a natureza e, assim, tudo o que diz respeito à reutilização de materiais, por exemplo, lhe interessa.
Natália e o copo adaptado a pessoas sem
 movimento de pescoço

Unindo as duas pontas (profissão e preservação ambiental), Natália começou a estudar com mais interesse o uso de materiais recicláveis como matéria prima para os trabalhos com crianças e idosos, geralmente de baixa renda, nas atividades que realiza como voluntária em Marília e São José do Rio Preto.
“A Terapia Ocupacional trabalha com a qualidade de vida. Ela tenta resgatar a qualidade de vida e proporciona a independência ao paciente”, explicou durante entrevista ao Correio Mariliense sob as frondosas árvores do campus da UNESP. Natália comentou que a T.O. “usa tecnologia assistiva, com materiais reutilizáveis, para proporcionar recursos de baixo custo”.
Como escoteira, o amor à natureza desde cedo.

Por enquanto, na universidade ela se limita ao estágio de observação e não tem contato direto com os pacientes do CEES (Centro de Estudos da Educação e da Saúde), o que ocorrerá no ano que vem. No entanto, como participa de eventos beneficentes como os dos organismos ligados ao Rotary Clube Internacional (Rotaract, já registrado pelo Correio Mariliense), a estudante alia os conhecimentos adquiridos na estruturação das ações de recreação que tão bem fazem aos idosos de asilos da cidade.
Atividade voluntária nos asilos: amor ao próximo
 AMOR À PROFISSÃO

 “O que ajudou bastante na escolha da Terapia Ocupacional foi minha paixão pelo próximo, a minha vontade de ajudar. Eu sou escoteira desde os 11 anos e sou muito apaixonada pelo movimento. Dentro dele a gente trabalha muito isso, o cuidado e o respeito pelo próximo”, contou a estudante.
Detalhe da adaptação
 da tesoura
Já o contato com a natureza, graças aos  inúmeros acampamentos dos quais participou desde a infância, fez com que Natália tivesse uma visão mais profunda sobre os temas ambientais. Por isso, poder aproveitar materiais inservíveis para o desenvolvimento de instrumentos que melhorem a vida dos pacientes é um exercício dos mais prazerosos.

 Sobre o futuro, Natália disse que não pretende parar de estudar, “mas espero atuar, também. Quero poder tocar as pessoas,  poder fazer a diferença na vida dos pacientes. E, por fim, espero que o meu trabalho mude a vida deles, dê independência e qualidade de vida. Acho que é o mínimo que o ser humano tem que ter”.

Papel e madeira transformam-se em recursos para as atividades

Citando o exemplo dos pais Ocimar e  Maraísa Teixeira, a jovem estudante finalizou, confiante: “Acredito que os trabalhos com o próximo, com a educação e com a juventude, são essenciais para um futuro melhor”.

* Reportagem pulicada na edição de 26.08.12
do Correio Mariliense

domingo, 19 de agosto de 2012

McDIA FELIZ: AÇÃO PROMOVIDA PELA SANTA CASA, COM RENDA REVERTIDA AO GAACH, TEM O TEMPERO DA SOLIDARIEDADE

Por Célia Ribeiro

No próximo sábado, dia 25 de agosto, os marilienses têm um encontro marcado com a solidariedade. Vai ser dia de colocar o sorriso na vitrine e sair de casa para colaborar com uma boa causa: o McDia Feliz, evento global do Instituto Ronald McDonald, criado para apoiar projetos de combate ao câncer infantil, terá a renda revertida para o GAACH (Grupo de Apoio à Criança com Câncer e Hemopatias).
Pediatria  Oncológica da Sta Casa recebeu mais de 300 mil nos últimos anos
(Foto: Siegbert Tadeu)
Há 11 anos promovido pela Santa Casa de Misericórdia de Marília, o evento arrecadou, somente nos últimos seis anos, mais de 300 mil reais que foram aplicados na pediatria oncológica da instituição. Em 2012, a Santa Casa inovou ao concentrar toda sua expertise e ampla rede de colaboradores no desafio de organizar o McDia Feliz em prol de outra entidade filantrópica. A meta é arrecadar 120 mil reais para aquisição de um terreno que será cedido para construção da sede própria do GAACH.

Conforme o Correio Mariliense registrou, em dezembro de 2.011, o GAACH é uma entidade diferenciada. Recebe famílias inteiras vindas de longe, num raio superior a 300 quilômetros, dando todo suporte logístico e emocional aos pais e às crianças em tratamento oncológico. Presidida pela médica oncologista Doralice Tam, funciona num casarão alugado no bairro Fragata desde 2.003.

(Esq.) Silza e o grupo de voluntárias do GAACH
 “É um trabalho muito importante, que precisa de apoio. A casa atende atualmente 40 famílias, além de outras que precisam de algum apoio sazonal. É uma forma de minimizar as dificuldades, principalmente, dos mais carentes”, afirmou a médica.

A CAMPANHA

O McDia Feliz 2012 será no dia 25. Mas, a campanha começa bem antes: empresas e instituições são contatadas para apoiarem o evento que terá a renda da venda de todos os lanches Big Mac daquele dia revertida para o projeto social, descontados apenas os impostos. Foram confeccionadas camisetas que levam a logomarca dos apoiadores e disponibilizados tíquetes para compra antecipada. As camisetas custam 20 reais e os lanches são vendidos a R$ 10,50. Informações podem ser obtidas na Santa Casa pelo telefone (14) 34025559, ramal 5747, com Érica.
O McDia Feliz é realizado anualmente com renda
revertida a um projeto de combate ao câncer infantil
Este ano, os padrinhos da campanha são os irmãos Ivan e Gilberto Zocchio que dividem o cargo simbólico com o objetivo de angariarem apoio ao McDia Feliz. “Com um espaço alugado, a instituição tem menos condições de atender suas necessidades. Já com a casa própria, o projeto de construção será dimensionado exatamente como a entidade precisa”, afirmou Ivan Zocchio, ex-presidente da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), com largo conhecimento de causa.

E como toda ajuda é bem-vinda, outra maneira da comunidade colaborar com a campanha é participando do leilão de uma camiseta autografada pelo ídolo sertanejo Gustavo Lima. No site http://marilia.azeitonapreta.com.br/leilao.php é possível dar lances em valores múltiplos de 10. Até sexta-feira, o leilão já tinha atingido a marca dos 300 reais. Até segunda-feira, às 19h, ainda dá tempo de participar fazendo lances.

DIRETORIA

Reconhecido nacionalmente por sua atuação à frente da Santa Casa de Marília, o provedor Milton Tédde considerou a campanha de 2012 ainda mais especial “já que este ano o hospital está compartilhando os benefícios com outra entidade”. Ele destacou a importância do trabalho do GAACH afirmando: “O que os voluntários dessa entidade fazem não tem definição, vai muito além do atendimento material. É um trabalho de acolhimento humanizado, feito com carinho e dedicação”.

Por sua vez, a superintendente da Santa Casa, Kátia Ferraz Santana, observou que o McDia saiu dos portões da instituição e conquistou Marília: “O envolvimento da cidade é tão expressivo que transcende o hospital. É a maior mobilização social do País pela cura do câncer infanto-juvenil. Tem sido um grande exemplo de como a sociedade pode se mobilizar”.

Márcio Mielo no McDia de 2007
Ela sugeriu “que a juventude, tão carente de novas bandeiras, abrace ações como esta através das redes sociais e das novas ferramentas de comunicação. Temos tanta informação circulando, por que não divulgar iniciativas que valem a pena, que vão contribuir para melhorar a vida das pessoas?”, desafiou.

Já o coordenador de Gestão Institucional, Márcio Mielo, disse que “a campanha cresce de forma significativa, não só em Marília, mas em todo o Brasil. Isso mostra como a doença tem um apelo emocional forte em toda a sociedade. Mostra ainda uma sociedade que se sensibiliza com o outro e isso significa esperança. Importante lembrar que, apesar do forte apelo emocional, o câncer infanto-juvenil tem hoje uma possibilidade de cura de até 80%”.

GAACH: EXEMPLO DE ORGANIZAÇÃO

Contando com 45 voluntárias dedicadas, fica difícil alcançar como o GAACH consegue funcionar redondinho, como um relógio suíço, oferecendo suporte às famílias que vêm a Marília em busca de tratamento para os filhos. Mais que apoio material, com fornecimento diário de refeições, pernoites, cestas básicas, roupas, suplementos alimentares etc, a entidade condensa toda a energia do trabalho voluntário para suprir as necessidades emocionais de todos que batam à sua porta.

Não é uma tarefa fácil. Para manterem a onerosa estrutura da casa, as voluntárias produzem artesanato vendido em bazares e disponíveis na lojinha da sede, além de guloseimas que têm clientela cativa: são bolos de leite Ninho, pães, tortas, bolos e os já famosos palitinhos de pimenta, petisco muito disputado. Também fazem eventos para arrecadação de recursos.
Grupo de Mães no artesanato das terças-feira
A Prefeitura Municipal colabora com o pagamento de R$ 1.200,00 para o aluguel que custa R$ 1.500,00, fora o IPTU. Por isso, é fundamental o apoio da comunidade que tem se mostrado “extremamente solidária, receptiva à nossa causa”, nas palavras da artista Silza Más Rosa, voluntária há 06 anos. Ela coordena o projeto “Conviver” que reúne as mães nas tardes de terça-feira para aulas de artesanato.
Silza, Maria Alice e Sara Aukar: voluntárias que dedicam tempo e energia à entidade

Dessas tardes saem produtos que são vendidos com renda para as próprias mães. “Pode parecer uma coisa pequena, mas já soubemos de mães que conseguiram trocar o piso de casa com esse dinheiro. Outra comprou um guarda-roupa novo”, contou Silza com o seu largo sorriso iluminando o rosto. As mães, que têm os mesmos problemas, apoiam-se mutuamente e até quem já perdeu o filho para a doença continua frequentando as tardes!

A coordenadora da casa, Maria Alice Moura Gregório aproveitou para lembrar que no prédio próprio, tudo que o GAACH tem hoje será feito com mais espaço e melhores acomodações. A cozinha, evidentemente, merecerá um olhar especial, assim como a futura lojinha que reúne os produtos confeccionados com delicadeza pelas voluntárias. Da mesma forma, a área destinada ao abrigo das famílias (hoje há 03 quartos) tem lugar reservado na futura sede.

A comunidade que quiser conhecer e colaborar com esse belo projeto, pode ir ao GAACH que está localizado à Rua Alfeu Cezar Pedrosa, 63, em frente à escola Orbe. O telefone é (14) 34224111. As doações podem ser de qualquer tipo: alimentos, eletrodomésticos, fraldas, roupas, calçados, suplementos alimentares (Sustagem) etc.
Animação nas festas juninas da entidade
E para quem ficar tocado com esse trabalho e desejar integrar o grupo de voluntárias, Silza Más Rosa tem a receita: “Não precisa saber lavar, passar, cozinhar ou fazer artesanato. Não precisa nada. A única capacitação é saber amar. Não existe outra fórmula que dê tão certo como a nossa: é o amor, amor, amor”, finalizou.

* Reportagem publicada na edição de 19.08.2012 do Correio Mariliense

domingo, 12 de agosto de 2012

SOLIDARIEDADE: “CASA DO BOM SAMARITANO” TRANSFORMA A VIDA DOS QUE ACEITAM SER AJUDADOS.

Por Célia Ribeiro

Uma casa antiga e acolhedora, localizada estrategicamente em frente à igreja Matriz de São Bento, na Avenida Pedro de Toledo, tem atraído homens e mulheres que perderam quase tudo. Como um farol sinalizando para os náufragos  a fachada estampa em letras garrafais o nome autoexplicativo: “Casa do Bom Samaritano”, lugar que oferece amor, cuidados e a ajuda necessária para resgatar a dignidade de todos que baterem à porta.
Rodrigo e Daniel na capela da entidade: inspiração divina
O projeto, criado e mantido pela Fundação Missão Louvor & Glória, ligada à igreja católica, foi inspirado na Madre Teresa de Calcutá. Certa vez, quando provocada, ela disse que não tinha a pretensão de matar a fome do mundo, mas podia matar a fome dos que batessem à sua porta, explicou o missionário de reputação internacional Rodrigo Ferreira, fundador da Missão.

A instituição, que o Correio Mariliense registrou na reportagem de estreia desta página, no dia 16 de abril de 2.010, mantém uma importante área social, além do trabalho de evangelização realizado no Brasil e pelo mundo afora. Com a agenda abarrotada de shows e pregações em retiros no território nacional e em diversos países, a Fundação Missão Louvor & Glória estabeleceu bases nos Estados Unidos, Japão e Angola.

Reunião dos voluntários
Em Marília, a sede fica na Avenida República, 1014, onde funciona a livraria e são realizadas as formações dos missionários. Anteriormente, no local eram realizados os atendimentos sociais e espirituais. Assistentes sociais e psicólogas voluntárias, entre outros profissionais agora atendem na “Casa do Bom Samaritano” para onde foi transferida a farmácia que fornece medicamentos, mediante receituário, às pessoas carentes.

Logo à entrada da casa está a capela cujo teto, que lembra o céu, foi cuidadosamente pintado por uma pessoa muito especial. Milquesedec Almeida, responsável pelo projeto de acolhimento, triagem e encaminhamento de dependentes químicos, está em vias de ser ordenado padre após formar-se em Filosofia e Teologia. No passado, cumpriu pena por tráfico de drogas, curou-se pela fé, renasceu na prisão e hoje colabora para o resgate de pessoas que chegaram ao fundo do poço.

FORÇA DE VONTADE

Acompanhado do co-fundador da Missão, Daniel Stavarengo, o missionário Rodrigo Ferreira explicou que as portas da “Casa do Bom Samaritano” estão abertas para ajudar todos que quiserem, efetivamente, serem ajudados. Homens e mulheres precisam estar sóbrios para serem acolhidos, tomam banho, são alimentados e passam pela triagem que inclui a realização de exames laboratoriais completos.
Farmácia fornece medicamentos gratuitos
Segundo Rodrigo, os exames servem para verificar as condições de saúde. Caso seja diagnosticada alguma doença, os atendidos são encaminhados para tratamento médico. Os custos dos exames são bancados por laboratórios parceiros e voluntários que ajudam a manter essa cara, porém necessária, estrutura. Os centros de recuperação de dependentes de álcool e drogas exigem essa avaliação antes de aceitarem os internos.

Para arcar com as despesas de alimentação, combustível para as viagens, aluguel, material de higiene e limpeza etc, a Missão Louvor &n Glória utiliza recursos próprios gerados com a venda de livros, CDs, DVDs, realização de shows e doação dos sócios da Fundação que pagam contribuições mensais. Além disso, a comunidade tem sido muito solidária contribuindo no Grupo de Oração, realizado às terças-feiras, à noite, na Igreja São Bento.

Refeições balanceadas, feitas com carinho,
na cozinha da "Casa do Bom Samaritano"
Voluntários leigos e missionários se unem para promoverem outros eventos como feira da sobremesa, venda de pastéis às terças-feiras no Grupo de Oração, e até frangos assados preparados na cozinha da “Casa do Bom Samaritano”.

Desde abril, quando foi aberta a casa, mais de 100 pessoas receberam atendimento, explicou Rodrigo Ferreira citando vários casos de profissionais com curso superior que passaram por lá numa situação degradante até conseguirem ser preparados para a internação numa das muitas clínicas de recuperação que recebem homens e mulheres enviados pela entidade.


A horta, localizada no quintal da casa, fornece legumes e verduras fresquinhos

Como nem sempre há vagas disponíveis, a Fundação se deparou com outra necessidade que está em vias de ser resolvida: um abrigo para que os dependentes químicos possam ser acolhidos e permanecerem em segurança até o encaminhamento aos centros de tratamento. Dentro de algumas semanas, o local onde residem os missionários solteiros, na Rua Sergipe, sediará a futura “Casa Madre Teresa de Calcutá”.

Desde já, a hospedaria necessita de ajuda da comunidade, comentou o missionário ressaltando que toda contribuição será bem recebida: móveis, eletrodomésticos, colchões,  roupas em bom estado, alimentos etc. Voluntários, de qualquer profissão, também são bem-vindos, explicou Rodrigo acrescentando que “quem cuida do projeto são pessoas que vivem a sobriedade mas um dia já tiveram problemas com álcool e drogas. São pessoas muito capacitadas”.
Na entrada da entidade, a identificação da Missão Louvor & Glória
Ciente dos enormes desafios e dificuldades, mas com uma fé inabalável, Rodrigo Ferreira está otimista com a instalação da hospedaria: “A gente quer é trazer a dignidade a essas pessoas porque elas tinham isso e perderam. Devolver a dignidade não significa só dar um prato de comida. É um trabalho bem amplo, psicológico, espiritual e humano. A gente acredita nisso, na recuperação dessas pessoas”, finalizou.

PARA AJUDAR

Quem quiser contribuir com esse belo projeto social, pode tornar-se sócio da Fundação Missão Louvor & Glória, cujos recursos são fiscalizados pelo poder público, doando qualquer valor, a partir de 15 reais, por mês. Os sócios recebem, mensalmente, um jornal com informações sobre os trabalhos realizados e um CD de pregação. É só escrever para: sociolouvoregloria@hotmail.com ou entrar em contato pelo telefone (14) 34549100. Para doar qualquer valor, há duas contas disponíveis: Bradesco (Agência 02-7, C/C 124366-7) e Banco do Brasil (Agência 0141-4, C/C 34193-2). Outras doações podem ser levadas à Avenida República, 1014.


*Reportagem publicada na edição de 12.08.2012 do Correio Mariliense

domingo, 5 de agosto de 2012

ÁREA REVITALIZADA PELOS MORADORES TEM ATÉ UM BOSQUE DE ÁRVORES FRUTÍFERAS, NA ZONA OESTE DE MARÍLIA.

Por Célia Ribeiro

Habitado por famílias de trabalhadores da indústria, o Jardim Alimentação I, na Zona Oeste, conseguiu uma proeza: preservar os hábitos de antigamente, quando os vizinhos se conheciam e passavam juntos os finais de semana, como uma grande família. Tudo começou com a ideia de revitalização de uma faixa de terras do loteamento que estava tomado pelo matagal e seus hóspedes indesejáveis (cobras, insetos, roedores, escorpiões etc). Graças à união entre alguns vizinhos, o local hoje abriga uma área de lazer comunitária, cercada pelo verde de dezenas de árvores frutíferas, com direito a mesas, bancos e até um fogão à lenha.

Jacas orgânicas fazem a alegria das crianças
Domingo de manhã, nem bem o sol nasceu, os moradores da Rua Odair Vidoto Manzon já traçam os planos para o dia que será desfrutado num ambiente simples, porém acolhedor. É que bem em frente às suas casas eles contam com um espaço privilegiado, construído com muito trabalho e paciência.

Aves criadas para consumo dos vizinhos
O operador de máquina Geraldo Matias da Silva, 55 anos, conta como tudo começou: há 13 anos, com a criação do loteamento que deu origem ao bairro, uma faixa de sete metros de largura por 40 metros de extensão, que deveria ser ocupada com reflorestamento, estava abandonada. O mato alto e os animais peçonhentos incomodavam demais a ponto de alguns vizinhos decidirem agir por contra própria.

Geraldo Matias foi o pioneiro. Começou limpando uma área em frente à sua casa, plantou mudas de árvores frutíferas e, à medida que o local ia tomando vida, se reuniu com outros vizinhos que aprovaram a ideia e passaram a cuidar do terreno em frente às suas moradias. Um instalou mesinhas de madeira com bancos, outro colocou uma churrasqueira e o próprio Geraldo construiu um fogão à lenha.

Sr. Geraldo e o fogão à lenha: almoços comunitários nos fins de semana

O que se vê ali encanta qualquer um: abacate, jaca, carambola, mexerica, limão galego e limão siciliano, jatobá, seriguela, pitanga, manga entre outras frutas estão à disposição dos moradores do entorno. As crianças são as mais animadas porque encontraram na área um espaço para brincarem com segurança.

ALMOÇOS COMUNITÁRIOS

Abusando da criatividade, Geraldo Matias foi dotando o espaço que lhe coube cuidar com as facilidades da vida moderna: com uma mangueira pega água de casa e abastece a pia do lugar, além de garantir água às criações. Isto porque, com o passar do tempo, ele percebeu que daria para criar galinhas, patos e codornas para consumo dos vizinhos nos almoços comunitários feitos ali mesmo, no fogão à lenha.
Sr. Ronildo caprichou no colorido de bancos e mesa da sua área
A energia elétrica para o som ambiente, a iluminação e o funcionamento da geladeira antiga, mas que gela bem os refrigerantes e cervejinhas dos convidados, vem da casa do Geraldo através de uma extensão. É só atravessar a rua que tudo se resolve.

Dezenas de árvores frutíferas onde havia mato e animais peçonhentos
O que se vê ali é um clima de muita cordialidade e amizade entre os vizinhos. A dona Dora Pedro do Nascimento, por exemplo, costuma emprestar uma panela bem grande, destas de restaurante, para o pessoal preparar pratos deliciosos como a galinhada caipira cujo aroma desperta todo o bairro.

Galões com óleo de fritura: cuidado com o meio-ambiente


“A molecada entra aqui e se diverte”, contou Geraldo Matias, explicando que a instalação do alambrado foi necessária para manter a ordem e evitar a invasão de vândalos. Como ele entra no trabalho às 14h, diariamente, aproveita o período da manhã para capinar o local e manter a organização do espaço desfrutado entre os moradores das imediações.

Ele disse que precisou enfrentar a incredulidade de muita gente: “Teve uns e outros que riam de mim e que debochavam, no começo. Mas, agora eles se arrependem”, comentou todo orgulhoso do seu trabalho.

ARTISTA

Ao lado do Geraldo, um vizinho chama a atenção pela criatividade com que organizou a área em frente à sua residência. O também industriário Ronildo Doro, 45 anos, casado e avô, é um artista de mão cheia. Além de construir vários móveis de uso próprio, criou na marcenaria improvisada da garagem as mesas e bancos da área de lazer do seu paraíso.

(Esq) Ronildo e o amigo apicultor Lau Gomes,
 registrados por Ivan Evangelista
Utilizando um pirógrafo, adquirido pela internet, Ronildo aproveita restos de madeira que encontra no caminho até o trabalho para gravar belas frases nas placas. Ele fez tanto sucesso que muitos amigos costumam solicitar encomendas, algumas vezes mandando a frase pronta, mas na maioria das vezes eles deixam ao gosto do artista.
Detalhe da placa na árvore diz tudo.
(Foto: Ivan Evangelista)
“Eu gosto de aproveitar tudo o que esteja sendo descartado e dar um uso. Gosto de fazer porta-latas, de aproveitar garrafa PET, de pegar madeira jogada pelo caminho e dali criar alguma coisa útil”, explicou Ronildo, o artista da Zona Oeste.

Depois da arte, o que ele mais gosta de fazer é reunir a família e os amigos, incluindo os vizinhos que tiveram a iniciativa de cuidarem do lugar em que vivem. Aproveitando a brisa fresca e a sombra das árvores frondosas, o artista busca inspiração para continuar criando. Qual será a frase da próxima placa?

* Reportagem publicada na edição de 05.08.2012 do Correio Mariliense