domingo, 3 de junho de 2012

DELÍCIAS DO AMOR SOLIDÁRIO: VOLUNTÁRIOS ADOÇAM A VIDA DE PORTADORES DE DOENÇAS MENTAIS DO HEM

Por Célia Ribeiro

Quando tímidos raios de sol despontam no horizonte e as ruas estão quase desertas, um grupo especial de pessoas já está de pé, com disposição invejável, para encarar uma longa jornada de trabalho. Às 6h30, pontualmente, a sede da “Delícias do Amor Solidário” abre as portas para que donas de casa, aposentados (ex-bancárias, ex-professoras, ex-policiais etc) e profissionais da ativa coloquem para funcionar uma padaria diferente, ao lado do Hospital Espírita de Marília.
Voluntários chegam às 6h30
(Foto: Ivan Evangelista)
Extremamente bem organizada e instalada segundo as rígidas normas da Vigilância Sanitária, a padaria nasceu da solidariedade de voluntários que resolveram profissionalizar a produção de alimentos visando a geração de renda. O “Grupo Amor Solidário”, que atua há muitos anos junto ao HEM, promoveu dezenas de eventos até conseguir o dinheiro necessário à empreitada.

O resultado é um ambiente amplo, arejado e funcional onde o clima é de alegria e descontração. “Quando acordo, vou logo falando: oba! Hoje é dia de padaria”, contou a dona-de-casa Luiza Imaizumi, na última quinta-feira. Essas palavras ilustram bem a troca que se dá entre os que se doam ao trabalho voluntário: “A gente é quem ganha. É muito bom poder trabalhar aqui”, revelou.

Alegria contagiante de Luiza e Sandra
(Foto: Célia Ribeiro)
Até que a padaria pudesse entrar em operação, em meados de 2010, os voluntários trilharam um duro percurso: muitas feiras de sobremesa, bazares da pechincha e eventos diversos até que poupassem os recursos necessários ao projeto. O grupo nem sabe quanto gastou: “Foi tudo picadinho. A gente conseguia um dinheiro e comprava uma coisa. Depois, mais um pouco e investia em outra. E assim foi até terminar. Não ganhamos um tostão de ninguém”, observou a dona-de-casa.

Ela destacou que o grupo “Amor Solidário” atua há muitos anos na entidade. Antes, eram voluntárias que se dedicavam aos trabalhos manuais (bordados, crochê etc) com renda revertida ao hospital. Depois, decidiram pela área da alimentação e a ideia da padaria caiu como uma luva.

CLIENTELA FIEL

Bancos como o Santander e a Caixa Econômica Federal, órgãos públicos como o INSS, empresas como o Expresso de Prata, entre outros, formam uma clientela fiel. Por e-mail, toda semana uma das voluntárias envia uma mensagem à lista de endereços eletrônicos cadastrados informando o cardápio. Em seguida, recebe as encomendas por e-mail e na quinta-feira os produtos são entregues às empresas ou retirados no local, na Avenida Joaquim de Abreu Sampaio Vidal, anexa ao hospital.

Cardápio variado é sucesso na certa.
(Foto: Ivan Evangelista)
O carro-chefe são as esfirras (carne, frango, ricota etc), mas os pães não ficam atrás. Há uma infinidade de opções incluindo os pães caseiros, recheados e italianos, roscas, além de doces (bolos e rocamboles). Para quem não pode com glúten, tem o bolo nutritivo, sem farinha de trigo. O trabalho só termina no fim da tarde quando contabilizam o lucro do dia, que varia entre 800 e 1.000 reais.

A padaria só não atende o público externo na última quinta-feira de cada mês. Neste dia, todo o trabalho é direcionado para os itens encomendados pelo hospital para a festa dos pacientes (ala dos abrigados) que aniversariam. Cerca de 100 pessoas participam das comemorações e cada um recebe um kit com 03 esfirras e 02 fatias de bolo ou rocambole. Nesta semana, a delícia era o rocambole de creme de abacaxi.

Luiza Imaizumi explicou que “antes a gente dava o dinheiro para o hospital”. No entanto, de uns meses para cá, os voluntários resolveram apadrinhar algumas alas e, trabalhando com metas, conseguem renovar seu estímulo: “Nossa padaria está reformando a Sala de TV e a Sala de Terapia Ocupacional dos moradores”, informou.

Sílvia Shauer mostra uma das delícias.
(Foto: Ivan Evangelista)
Já foram feitas melhorias como substituição dos vidros e instalação de forro de PVC, além da aquisição de uma televisão de LCD de 46 polegadas. Agora, o grupo está focado na finalização dos mobiliários para dar conforto aos pacientes.

Nem bem terminam uma melhoria, os voluntários se debruçam em novos planos. O próximo setor a receber o apoio do grupo será o jardim interno. Uma arquiteta está colaborando com o projeto paisagístico e o local deverá receber quiosques e uma reformulação geral para criar um ambiente acolhedor aos usuários.

DIFICULDADE

Enquanto o Correio Mariliense acompanhava o início dos trabalhos, na última quinta-feira bem cedo, chegou um grupo carregando utensílios de cozinha: eram os donos do “Buffet Leda Pontes” que dedicam a quinta-feira para ajudarem na padaria. Aliás, além de profissionais aposentados, alguns estão na ativa, como uma cirurgiã-dentista que também fecha o consultório, às quintas-feiras, para se aventurar entre ovos, farinha e recheios.

Apesar de toda a dedicação dos voluntários, o grupo sente falta de mais ajuda: “Não precisa saber cozinhar. Pode ser alguém que ajude a lavar louça ou, principalmente, a embalar as encomendas”, disse Luiza. Normalmente, são necessários 10 voluntários por semana, mas tem dias em que apenas sete estão disponíveis.

Por sua vez, a ex-bancária e ex-lojista Sandra Ramirez explicou que a maior dificuldade é com a entrega das encomendas. O grupo faz um apelo a quem quiser colaborar afirmando que será bem-vindo qualquer apoio neste sentido: “Até ajudamos a pagar o combustível do voluntário”, ressaltou.

Detalhe do recheio: irresistível.
(Foto: Ivan Evangelista)
Os interessados podem entrar em contato pelo e-mail: grupoamorsolidariomarilia@hotmail.com Neste mesmo endereço, as pessoas podem solicitar os cardápios da semana e fazerem suas encomendas. Na próxima quinta-feira, por causa do feriado, não haverá expediente. Mas, na semana seguinte, dia 14 de junho, estarão todos a postos preparando delícias.

São as “Delícias do Amor Solidário” que fazem bem a quem compra e a quem faz. E, claro, bem ainda maior aos pacientes do Hospital Espírita de Marília!


 * Reportagem publicada na edição de 03.06.2012 do Correio Mariliense

3 comentários:

  1. Nossa...que coisa linda de saber e de ser ver...Isso é o Deus vivo. Parabéns a todos os voluntários. Parabéns pela bela reportagem.

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  2. Parabéns por esse trabalho! Ser voluntário é ser mais feliz!

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  3. É REALMENTE UM TRABALHO MARAVILHOSO.PARABENS A TODAS AS VOLUNTÁRIAS...

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